BANCÁRIA ENCARA DOENÇA E FAZ VIDEO PARA DESMISTIFICAR HEPATITE C
Fundadora de um site com informações sobre o vírus C (www.animando-c.com.br), Ana Paula decidiu fazer um microdocumentário, com cenas do seu dia a dia e relatos de amigos, para mostrar que é possível levar uma vida normal mesmo com a grave inflamação no fígado. Intitulado Hepatite C, sem medo, o vídeo, dirigido e produzido pelo produtor cultural Heraldo Palmeira, também tem a missão de incentivar a realização do exame para detectar a presença do vírus no organismo.
A preocupação de Ana Paula em estimular o diagnóstico precoce faz sentido. Dos cerca de 3 milhões de portadores da doença, pelo menos 95% não sabem que têm a enfermidade. “A hepatite C não é só silenciosa nos sintomas, mas também na sociedade”, lembra a bancária, assinalando que a infecção é, muitas vezes, assintomática.
Apoio
Ana Paula descobriu a doença no mesmo momento em que a tia, Lia Marteletto, 53 anos, também portadora da hepatite C, aguardava na fila por um transplante de fígado. “Hoje ela está curada e transplantada”, explica Lea Marteletto, 51, mãe de Ana Paula e irmã de Lia. “Não sei de onde minha filha tira tanta garra.” Recém-casada à época do diagnóstico, a bancária teve medo de que a doença interferisse em seu relacionamento. “Mas foi só receio mesmo. Meu marido me apoia em tudo”, conta a bancária, que acredita ter sido infectada em 1986, aos 8 anos, numa transfusão de sangue.
O tratamento não foi iniciado imediatamente. Em 2005, a bancária não se encaixava nos critérios estabelecidos pelo protocolo do Ministério da Saúde para receber gratuitamente o medicamento. “Só pude começar a tomar o remédio em 2008. Foram 27 semanas e muitos efeitos colaterais”, lembra Ana Paula, que ainda não conseguiu se curar. Hoje, a pequena Amanda, de 2 anos, é seu principal estímulo contra o desânimo. Ela deve tentar um novo tratamento em 2012, quando serão disponibilizadas novas drogas para o tratamento.
Para se ter uma ideia da gravidade da hepatite C no Brasil, basta comparar os números da enfermidade com o de casos de HIV. Enquanto estima-se que aproximadamente 630 mil brasileiros sejam portadores do HIV — sendo que, deste total, 180 mil têm acesso ao tratamento — apenas 25 mil pessoas procuraram as unidades de saúde para se curar da hepatite C. “É um número baixo. O grande problema é que a hepatite C é silenciosa, sem sintomas. E, geralmente, quando a pessoa descobre já fica difícil de alcançar a cura”, afirma o coordenador do Programa Nacional de Hepatites Virais, Ricardo Gadelha.
A saga de Ana Paula contra a hepatite C conta com o importante apoio de seu médico particular, o infectologista José David Urbáez, integrante do Núcleo de Hepatites Virais da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. “Ele extrapolou os limites de um profissional. Se envolveu pessoalmente com o meu problema”, diz a bancária. O vídeo já está sendo divulgado pelo seu plano de saúde — a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi) — como forma de conscientizar os associados sobre a hepatite C.
"Quando soube que ela queria fazer um documentário, topei na hora. A história dela pode ajudar centenas de pessoas que convivem com a doença”. Heraldo Palmeira, 49 anos, produtor cultural, diretor do microdocumentário Hepatite C, sem medo.
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